Príncipe Custódio como inspiração: tema enredo da Portela e de livro do APERS
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A tradicional escola de samba Portela, maior campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, anunciou no último dia 13 de junho que o enredo de seu desfile para 2026 será dedicado a uma figura histórica profundamente ligada à cultura afro-gaúcha: o Príncipe Custódio Joaquim de Almeida.
Com o título “O Mistério do Príncipe do Bará — A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”, o enredo propõe uma imersão na trajetória do príncipe africano que se tornou símbolo de resistência e religiosidade da comunidade negra de Porto Alegre.
Custódio Joaquim de Almeida, também conhecido como príncipe Custódio, foi uma africano que se estabeleceu em Porto Alegre durante a segunda metade do século XIX. Viveu por muitos anos na Rua Lopo Gonçalves, nº 498. Possuía uma coudelaria de cavalos em sua residência. Custódio, que envolvia-se em corridas, tornou-se um conhecido turfman. É difícil precisar o ano de sua chegada ao Brasil e o local de seu desembarque. Acredita-se que tenha chegado na década de 1860, ainda jovem, em porto baiano ou gaúcho.
Custódio Joaquim de Almeida era filho de Joaquim de Almeida, um africano retornado. Custódio era de Daomé e as motivações para sua vinda ao Brasil ainda são nebulosas. O título de nobreza - príncipe - embutido em seu nome não relaciona-se a uma descendência real. Provavelmente diz respeito a uma expressão de liderança popular. Custódio tornou-se uma autoridade religiosa com o passar dos anos. Lugar conquistado através de seu domínio sobre a linguagem mágica, generosidade do acolhimento de pessoas necessitadas, na cura e na mediação com a elite política.
Em 2021, o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) lançou a obra “No refluxo dos retornados: Custódio Joaquim de Almeida, o príncipe africano de Porto Alegre”, escrita por Jovani de Souza Scherer e Rodrigo de Azevedo Weimer. O livro, disponível gratuitamente em formato digital no site do APERS, foi produzido durante a pandemia e está estruturado em quatro capítulos.
A publicação revisita a trajetória do Príncipe Custódio, estabelecendo conexões entre sua chegada ao Brasil, a afrorreligiosidade e o contexto político da época. Também reúne documentos históricos, como processos judiciais, textos de periódicos e obituários, que ajudam a reconstruir a memória dessa figura essencial para a história do Rio Grande do Sul e do Brasil.
A escolha da Portela reforça a importância de Custódio Joaquim de Almeida como símbolo de resistência e ancestralidade, e destaca o papel da pesquisa histórica na valorização da cultura afro-brasileira.