O APERS e a imigração italiana
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No ano em que se celebra os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, de justas razões para comemorações, o Arquivo Público também registra a efeméride. Em conjunto com outras nacionalidades e etnias, os italianos e seus descendentes muito contribuíram para o desenvolvimento do Estado, e sua história está fartamente documentada e já foi bastante estudada. Sinteticamente, a vinda de italianos para o Brasil deve ser analisada sob dois aspectos.
Quanto aos territórios de origem, a saída dos emigrantes estava associada ao fato de que uma considerável parcela da população economicamente ativa viu-se sem espaço no contexto das novas relações de produção que o capitalismo oitocentista impunha a sociedades em modernização, como a Itália pós unificação. Especialmente atingidos por uma nova configuração fundiária, muitos pobres, sobretudo agricultores e artesãos, tiveram que buscar em diversos países o sustento que lhes era dificultado em sua terra natal.
Do ponto de vista brasileiro, o processo de colonização foi estruturado e executado por um Estado Imperial dominado por elites ferrenhamente defensoras de um sistema econômico alicerçado na grande propriedade e na mão de obra escravizada. Entretanto, no que se refere ao Rio Grande do Sul, as colônias foram estabelecidas com base em uma estrutura fundiária distinta, de pequena propriedade. Além disso, havia a intenção eugênica do “branqueamento” da raça e sua consequente “melhoria” de qualidade – o que prosseguiu com a República. Por essas razões, entre outras, a colonização europeia proporcionou aos imigrantes acesso à terra e a recursos que foram negados a frações da população considerada inferior, ou seja, brasileiros de origem indígena e africana.
Tendo em vista a natureza formal e organizada do processo, a documentação produzida, além de fundamentar a historiografia sobre o assunto, traz um benefício adicional e igualmente relevante, servindo como ferramenta de construção de memória e identidade. Grande parte do acervo do APERS pode ser relacionado a pessoas e a temas relativos à imigração italiana. Desde os Registros Civis, passando pelos livros de Tabelionato até a extensa documentação judicial, essas fontes revelam nomes, vínculos, deslocamentos, enfim, trajetórias de vidas importantes para nossa história geral, para além do proveito óbvio das possibilidades de genealogia. Recentemente, por exemplo, o Arquivo Público disponibilizou registros de concessão de lote da Secretaria da Agricultura, ou seja, documentação do Executivo que demonstra precisamente aquela possibilidade de acesso à terra já referida.
Assim, o APERS saúda o sesquicentenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, reconhecendo o valor dos imigrantes que cedo se tornaram também brasileiros. E registra, novamente, a sua intenção de se constituir, pela disponibilização de seus acervos, em um espaço democrático e plural para a constituição e a reflexão crítica da memória, das identidades e da nossa história.