Você sabia que o Dia Internacional do Orgulho tem origem na revolta de Stonewall (Nova York, 1969)? Esse evento é considerado o marco inicial do movimento LGBT+ e foi essencial para que a causa ganhasse as ruas e o debate público.  

Segundo o ILGA* é estimado que em 1969, 74% da população vivesse em um país onde ser homossexual era crime. Cinquenta anos de luta após, a porcentagem caiu para 23%. O que deve inspirar um otimismo prudente por dois motivos: em 2022 a porcentagem deveria ser ainda menor e são preocupantes as recentes ondas de retrocesso e conservadorismo.  

A luta continua e é preciso entender que a trajetória não começa ou termina em Stonewall. Você conhece a vida social e cultural LGBT+ anterior a 1969 ou 1978 (Grupo Somos e jornal Lampião na Esquina, no Brasil)? Embora essas datas sejam marcantes para o movimento social contemporâneo, havia muita coisa acontecendo antes disso. A documentação do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, em especial os processos criminais, nos ajudam a compreender um pouco dessa história. 

Apesar de serem fontes que encontram pessoas LGBT+ em situações de marginalidade ou vitimização, também permitem conhecer os espaços de paquera, relações sexuais e afetivas. A Praça da Alfândega, por exemplo, era um ponto de encontro. O passeio na Rua da Praia também criava oportunidade para olhares e sinais. 

Em uma sociedade moralista e preconceituosa, muitas vezes eram os espaços de prostituição que abrigavam corpos e desejos dissidentes da norma. Não por acaso, havia uma sobreposição entre lugares como as ruas Voluntários da Pátria, Pantaleão Teles (atual Washington Luís) e Cabo Rocha (atual Professor Freitas e Castro), “antros” de prostituição, e as espacialidades LGBT+. Muitos “pederastas passivos” trabalhavam como camareiros em casas de tolerância. 

Esse passado parece distante, mas é estranhamente atual, quando pensamos que muites LGBT+ seguem vítimas de perseguição, preconceito, têm limitadas suas possibilidades de trabalho, por exemplo. Se não estamos mais nos anos 1940 e 1950, há muito a ser feito. 

 
* (Associação Internacional de Lésbicas Gays, Trans e Intersexuais) 

**As fotografias foram gentilmente cedidas pelo Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. Elas não representam a sexualidade de nenhuma das pessoas que aparecem nas fotografias, são utilizadas apenas para que conheçamos os locais citados no texto, antes de 1969. 

*** Deixamos aqui o nosso agradecimento especial ao @museudepoa e ao trabalho incrível do artista @ritchellyoliveira  

 
Referências: 

MANTOVANI, Flávia. Relação homossexual é crime em 70 países, mostra relatório mundial. Folha de São Paulo, São Paulo, 20 mar 2019. Mundo. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/relacao-homossexual-e-crime-em-70-paises-mostra-relatorio-mundial.shtml >. Acesso em: 27 JUN 22